sexta-feira, 29 de abril de 2011

PT DA TIRO NO PÉ



A volta de Delúbio Soares ao PT custará caro ao partido e ao governo Dilma. A refiliação do ex-tesoureiro, um dos principais personagens do mensalão, provocará desgaste na opinião pública. Mesmo cientes disso, o PT e o governo parecem dispostos a pagar o preço.
Por quê
Delúbio ficou calado durante muito tempo. Não atrapalhou a reeleição de Lula em 2006 nem a vitória de Dilma em 2010. Nos bastidores, apresenta sinais de instabilidade emocional. Não suporta mais o ostracismo. Isso preocupa muita gente graúda no PT. Há petistas que falam em chantagem política, ao descrever a veemência do seu pedido de refiliação.
Outro motivo: o ex-tesoureiro deverá ser condenado por formação de quadrilha e corrupção ativa, crimes aos quais responde no processo do mensalão que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal).
O sensato seria aguardar a decisão do Supremo, esperada para o ano que vem. Absolvido, Delúbio poderia pedir a refiliação com forte argumento. Mas ninguém no PT acredita nessa hipótese. Melhor, no cálculo político da sigla, aceitá-lo agora.
Prestes a acontecer, será uma decisão de uma hipocrisia política digna do bordão "nunca antes na história deste país". É fraca a justificativa de que não há condenação perpétua no Brasil e que, portanto, ele poderia retornar desde que comprometido a ter bom comportamento de agora em diante.
Delúbio não foi para a cadeia. Um partido político decidiu em 2005 que deveria expulsá-lo devido ao papel central no esquema do mensalão. Ora, é um direito de qualquer agremiação escolher quem está apto a integrar seus quadros.
Se refiliá-lo agora, o PT deveria dizer que todo o partido, sem exceções, endossou as ações de Delúbio na tesouraria e que ele foi expulso somente para dar uma resposta política ao eleitorado e não bombardear a reeleição de Lula.
Hoje, a oposição está enfraquecida. O governo parece uma fortaleza. O mais provável é a manutenção desse cenário na próxima disputa presidencial, mas há tempo de sobra para uma reviravolta.

Kennedy Alencar escreve na Folha.com às sextas.

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