segunda-feira, 25 de junho de 2012

Os partidos e suas estranhas alianças.


Ao posar para as câmeras, no início da semana passada, ao lado do deputado federal Paulo Maluf (SP) e confirmar a aliança PT-PP na capital paulista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou-se protagonista da cena mais comentada e polêmica da semana. Reacendeu também a discussão sobre as coligações partidárias a qualquer custo em nome da vitória na disputa eleitoral. Apesar de simbólica, no entanto, a curiosa aliança dos inimigos do passado não é a única contradição das eleições municipais de 2012.

Se graças à conjuntura política, Lula e Maluf fizeram as pazes depois de trocar ofensas ao longo da vida – “Ele é o símbolo da pouca vergonha nacional e está querendo ser presidente”, disse o ex-presidente sobre o ex-prefeito de São Paulo, em 1994 –, o pré-candidato do PSDB em São Paulo, José Serra, também jogou para debaixo do tapete as duras palavras já proferidas por ele e seu partido contra o maior escândalo político envolvendo o governo do petista. Para conseguir mais tempo na propaganda eleitoral na TV e no rádio, Serra aceitou ter em seu palanque o deputado Valdemar Costa Neto, presidente estadual do PR e réu do mensalão, que será julgado a partir de agosto pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Integrantes das cúpulas tucana e petista defendem-se das acusações de estar traindo a história ideológica dos partidos, mas não negam que as alianças foram feitas a contragosto. “Se você quer disputar uma eleição para vencer, não dá para dispensar o tempo de televisão. A população quer saber o que o candidato propõe para a cidade e você precisa ter condições de mostrar isso no horário eleitoral”, justifica o vereador e presidente do diretório municipal do PT em São Paulo, Antônio Donato.

Esquema
Deputado federal e um dos coordenadores da campanha de Serra, Walter Feldmann (PSDB-SP) rechaça a comparação entre as alianças do tucano e do petista. “Do ponto de vista ético, de fato há semelhanças entre Paulo Maluf e Valdemar da Costa Neto”, comenta. “Mas o prejuízo no caso do PT foi maior porque o Maluf é uma figura muito presente na história política de São Paulo nos últimos 20 anos. Seria como se o PT de Brasília se coligasse com o Roriz (Joaquim Roriz, ex-governador do Distrito Federal). Já o Boy (apelido de Valdemar) é forte em Mogi das Cruzes e participou do mensalão, que é um esquema nacional”, justificou.

Para o cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Marco Antonio Carvalho Teixeira, as coligações “esdrúxulas”, como define um deputado da cúpula petista, repetem-se pelo país (veja quadro) graças à falta de coerência programática entre os partidos. “O caso paulista, apesar de ser o que mais chama a atenção, não é isolado, pois estamos verificando coligações feitas tendo a vitória na eleição como fim e, se o objetivo é só esse, programas e ideias comuns não são observados, enfraquecendo os próprios partidos”, destaca.

Carvalho Teixeira cita como outro exemplo contraditório a aliança entre o ex-governador do Rio de Janeiro e deputado federal Anthony Garotinho (PR) e o ex-prefeito da capital fluminense Cesar Maia (DEM). Inimigos históricos, os dois se uniram para lançar os filhos Rodrigo Maia, deputado federal, e Clarissa Garotinho, deputada estadual, como candidatos a prefeito e vice da cidade.

Outra parceria curiosa lembrada pelo professor é a selada em Salvador (BA), onde o deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM) terá como vice a professora universitária Célia Sacramento (PV). “É no mínimo estranho um partido como o PV, que prega a renovação política, aliar-se ao representante de uma tradicional oligarquia baiana”, comenta o cientista político, referindo-se ao poder da família do democrata no estado, na figura de seu avô, Antônio Carlos Magalhães.

O professor da FGV acrescenta ainda ao caso de Porto Alegre (RS), onde a deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB) terá como vice o vereador Nelcir Tessaro (PSD). “Também não faz o menor sentido ver um partido comunista aceitar a aliança com uma legenda sem ideia definida, que se alia a qualquer um”, critica.

Exemplos pelo país

Confira casos de coligações nas próximas eleições municipais que fogem do tradicional

» São Paulo
Lula-Fernando Haddad (PT) e o inimigo do passado Paulo Maluf (PP)

» São Paulo
José Serra (PSDB) e Valdemar Costa Neto (PR), réu do mensalão, um escândalo do governo petista

» Rio de Janeiro
Os rivais históricos Cesar Maia (DEM) e Anthony Garotinho (PR) lançam seus filhos Rodrigo Maia e Clarissa Garotinho na mesma chapa

» Porto Alegre

Manuela D'Ávila, do PCdoB, comunista e de esquerda, terá como vice Nelcir Tessaro, do PSD, sem ideologia definida

» Salvador
ACM Neto (DEM), da família que dominou o estado por muitos anos, terá como vice uma professora do PV, legenda que defende a renovação dos partidos tradicionais

Fonte: www.em.com.br

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