Passos já contabiliza 18 homicídios em 2012, e a ação
da criminalidade não para. São inúmeros menores ou adolescentes, além de
criminosos que estão à espreita esperando a próxima vítima que pode ser
qualquer um.
A história que O Jornal de Minas conta não é nova, apenas
retrata a situação de um jovem cidadão de Passos que estava no lugar errado, na
hora errada e foi sentenciado pelo tráfico de drogas: “Você e seus amigos vão
morrer”. Dos quatro amigos, apenas um está vivo, escondido, abandonado pelo
poder público, acuado e com medo. “Sou o próximo e posso ser a 18ª vítima, o
próximo corpo a ser encontrado pela polícia em alguma rua de Passos”, diz M.C.
A
história começou há quatro anos, quando M.C. estava bebendo com os amigos em um
bar da cidade. Um adolescente se aproximou de outro jovem e disparou alguns
tiros, arrancando a perna de sua vítima. Ao presenciar a cena, os amigos de
M.C. conseguiram dominar o adolescente, mas ao ser preso sentenciou o grupo de
amigos. “Todos vão morrer”, disse ele, afirmando, também, ser filho de um
traficante de drogas da cidade.
A
promessa está sendo cumprida. Ao longo do tempo, três dos quatro amigos foram
assassinados. Com armas de fogo, facas... não importando os meios, apenas o fim
estava garantido.
Nossa
reportagem esteve com M.C. em um local afastado de Passos e em um depoimento
chocante, o jovem se comparou ao pássaro engaiolado e que não pode sequer olhar
pela janela para ver o movimento da rua. Sem esperanças e sem o apoio e a
proteção do Estado, M.C. vive cada dia como se fosse o último de sua vida. “É
humilhante e pavoroso viver a vida como a vivo. Não posso encontrar meus amigos
ou sair deste local e as portas e janelas estão sempre fechadas e trancadas.
Não posso trabalhar e vivo às custas dos parentes. Às vezes penso em fugir para
bem longe e tentar recomeçar a vida”, diz o sentenciado à morte pelo tráfico de
drogas que a cada dia domina as ruas de Passos.
Mas,
em seu depoimento, M.C. revela que o medo é muito maior do que se possa
imaginas. “Eu tenho vontade de sair, de passear, mas tenho medo de encontrar
alguém que me conheça e que eu não o conheça. Eu não conheço a pessoa ou as
pessoas que querem me matar. Eu apenas recebo as ameaças através de conhecidos
ou familiares que afirmam que há comentários de que eu estou jurado de morte.
Eu gostaria de conhecer as pessoas que estão me ameaçando, até para que eu possa
tomar uma decisão quando encontrar alguma delas pelas ruas. Pelo que eu sei o
menor que atirou está preso, e quem matou os outros?”
A
primeira ameaça veio na véspera do Natal, 24 de dezembro. Um dia de comemoração
para muitos e um péssimo dia para M.C. que recebeu como presente sua sentença
de morte. Dos três que já foram assassinados, o primeiro teve uma morte
bárbara. “O primeiro foi morto a facadas, com podão, picaram ele. Hoje dependo
dos favores da minha mãe, dos meus tios, da minha tia, e é muito complicado já
que eu sempre gostei de trabalhar, nunca fui vagabundo e passar por uma
situação dessas é muito complicado”, afirma M.C.
A
ajuda dos agentes públicos de segurança e justiça não veio. Até por receio de
se expor o sentenciado pelo tráfico procurou apenas o apoio e a orientação de
amigos. “Muitos falaram que não dava procurar ajuda porque ainda não tinha
acontecido nada e que teria sido apenas ameaça verbal, mas se eu for esperar
acontecer, como eu faço? Depois não vai dar para reclamar com ninguém.”, diz
M.C.
A
esperança em dias melhores é o que mantém o jovem de 26 anos vivo. Sua paixão
pela vida e pela cidade é constante em seu depoimento. “Eu espero que um dia
Passos mude. Que volte a ser aquela cidade que eu nasci e cresci. Eu espero a
minha liberdade de novo. Eu que não fiz nada estou preso e quem está me
ameaçando não está (preso).” Declara.
Sem
saber que o está ameaçando, mas com a certeza de que as ameaças vem da
criminalidade, M.C. afirma que já perguntou para alguns amigos que ainda possui
sobre quem seriam as pessoas que o ameaçam de morte, a resposta é sempre a
mesma e ninguém sabe. “Cada vez é uma pessoa diferente; ninguém sabe quem é.
Mas as ameaças são constantes. Pela minha família que às vezes encontram com
alguém que avisa para que eu não volte à Passos senão eu vou morrer, que eu sou
o próximo. Já morreram o Lelei, o Garga e o Buiuzinho, e eu sou o próximo”,
desabafa M.C.
A
família de M.C. concorda com seu depoimento. Alguns parentes afirmam que
realmente ele estava no lugar errado, na hora errada e que as más companhias o
levaram para essa situação. Mas, afirma, também, que o jovem nunca teve
envolvimento com drogas e que sempre foi trabalhador. Esperam que, em algum
dia, este drama macabro e sórdido tenha um fim, ou que, infelizmente, M.C.
acabe se transformando apenas em uma triste estatística para contribuir com o
recorde histórico que Passos conquistou nos últimos três anos.
Fonte:
O Jornal de Minas
(35) 3021-2608
Avenida da Penha, 134a
37903-034 - Passos/MG
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