terça-feira, 12 de junho de 2012

Marcado para morrer.


Passos já contabiliza 18 homicídios em 2012, e a ação da criminalidade não para. São inúmeros menores ou adolescentes, além de criminosos que estão à espreita esperando a próxima vítima que pode ser qualquer um.

A história que O Jornal de Minas conta não é nova, apenas retrata a situação de um jovem cidadão de Passos que estava no lugar errado, na hora errada e foi sentenciado pelo tráfico de drogas: “Você e seus amigos vão morrer”. Dos quatro amigos, apenas um está vivo, escondido, abandonado pelo poder público, acuado e com medo. “Sou o próximo e posso ser a 18ª vítima, o próximo corpo a ser encontrado pela polícia em alguma rua de Passos”, diz M.C.


                A história começou há quatro anos, quando M.C. estava bebendo com os amigos em um bar da cidade. Um adolescente se aproximou de outro jovem e disparou alguns tiros, arrancando a perna de sua vítima. Ao presenciar a cena, os amigos de M.C. conseguiram dominar o adolescente, mas ao ser preso sentenciou o grupo de amigos. “Todos vão morrer”, disse ele, afirmando, também, ser filho de um traficante de drogas da cidade.
                A promessa está sendo cumprida. Ao longo do tempo, três dos quatro amigos foram assassinados. Com armas de fogo, facas... não importando os meios, apenas o fim estava garantido.
                Nossa reportagem esteve com M.C. em um local afastado de Passos e em um depoimento chocante, o jovem se comparou ao pássaro engaiolado e que não pode sequer olhar pela janela para ver o movimento da rua. Sem esperanças e sem o apoio e a proteção do Estado, M.C. vive cada dia como se fosse o último de sua vida. “É humilhante e pavoroso viver a vida como a vivo. Não posso encontrar meus amigos ou sair deste local e as portas e janelas estão sempre fechadas e trancadas. Não posso trabalhar e vivo às custas dos parentes. Às vezes penso em fugir para bem longe e tentar recomeçar a vida”, diz o sentenciado à morte pelo tráfico de drogas que a cada dia domina as ruas de Passos.
                Mas, em seu depoimento, M.C. revela que o medo é muito maior do que se possa imaginas. “Eu tenho vontade de sair, de passear, mas tenho medo de encontrar alguém que me conheça e que eu não o conheça. Eu não conheço a pessoa ou as pessoas que querem me matar. Eu apenas recebo as ameaças através de conhecidos ou familiares que afirmam que há comentários de que eu estou jurado de morte. Eu gostaria de conhecer as pessoas que estão me ameaçando, até para que eu possa tomar uma decisão quando encontrar alguma delas pelas ruas. Pelo que eu sei o menor que atirou está preso, e quem matou os outros?”
                A primeira ameaça veio na véspera do Natal, 24 de dezembro. Um dia de comemoração para muitos e um péssimo dia para M.C. que recebeu como presente sua sentença de morte. Dos três que já foram assassinados, o primeiro teve uma morte bárbara. “O primeiro foi morto a facadas, com podão, picaram ele. Hoje dependo dos favores da minha mãe, dos meus tios, da minha tia, e é muito complicado já que eu sempre gostei de trabalhar, nunca fui vagabundo e passar por uma situação dessas é muito complicado”, afirma M.C.
                A ajuda dos agentes públicos de segurança e justiça não veio. Até por receio de se expor o sentenciado pelo tráfico procurou apenas o apoio e a orientação de amigos. “Muitos falaram que não dava procurar ajuda porque ainda não tinha acontecido nada e que teria sido apenas ameaça verbal, mas se eu for esperar acontecer, como eu faço? Depois não vai dar para reclamar com ninguém.”, diz M.C.
                A esperança em dias melhores é o que mantém o jovem de 26 anos vivo. Sua paixão pela vida e pela cidade é constante em seu depoimento. “Eu espero que um dia Passos mude. Que volte a ser aquela cidade que eu nasci e cresci. Eu espero a minha liberdade de novo. Eu que não fiz nada estou preso e quem está me ameaçando não está (preso).” Declara.
                Sem saber que o está ameaçando, mas com a certeza de que as ameaças vem da criminalidade, M.C. afirma que já perguntou para alguns amigos que ainda possui sobre quem seriam as pessoas que o ameaçam de morte, a resposta é sempre a mesma e ninguém sabe. “Cada vez é uma pessoa diferente; ninguém sabe quem é. Mas as ameaças são constantes. Pela minha família que às vezes encontram com alguém que avisa para que eu não volte à Passos senão eu vou morrer, que eu sou o próximo. Já morreram o Lelei, o Garga e o Buiuzinho, e eu sou o próximo”, desabafa M.C.
                A família de M.C. concorda com seu depoimento. Alguns parentes afirmam que realmente ele estava no lugar errado, na hora errada e que as más companhias o levaram para essa situação. Mas, afirma, também, que o jovem nunca teve envolvimento com drogas e que sempre foi trabalhador. Esperam que, em algum dia, este drama macabro e sórdido tenha um fim, ou que, infelizmente, M.C. acabe se transformando apenas em uma triste estatística para contribuir com o recorde histórico que Passos conquistou nos últimos três anos.
Fonte:
O Jornal de Minas
(35) 3021-2608
Avenida da Penha, 134a
37903-034 - Passos/MG


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